A pandemia global pelo novo coronavírus 2 (SARS-CoV-2) afetou a grupos específicos, como idosos e pessoas com comorbidades como asma e pressão alta, de maneira mais severa.
Conforme aponta uma revisão sistemática de estudos publicada no periódico científico Mayo Clinic Proceedings, mulheres grávidas, grupo que pesquisas feitas em diferentes países já apontava como vulnerável, também apresentam maior risco de morbidade e mortalidade associadas a infecções.
Segundo os pesquisadores, isso acontece porque alterações fisiológicas naturais durante a gravidez e mudanças metabólicas e vasculares em gestações de alto risco podem agravar o quadro clínico da covid-19.
Essas mudanças fisiológicas, de acordo com os cientistas, abrem a porta para impactos advindos do vírus. O vírus entra nas células através do receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), que é aumentado durante a gravidez normal.
Como resultado da maior expressão de ACE2, as grávidas podem ter risco elevado para complicações. A cascata de eventos que acontecem uma vez que o vírus se liga ao receptor ACE2 é similar ao que acontece na pré-eclâmpsia, uma complicação potencialmente séria da gravidez que pode levar a pressão alta e a possíveis danos aos órgãos
Como o estudo foi feito
- A análise considerou um total de 23 estudos publicados em língua inglesa entre os dias 1º de janeiro e 22 de abril e que levou em consideração casos de 185 pacientes. A revisão excluiu as análises que apresentavam somente relatos de casos.
- A maioria dos diagnósticos das mulheres grávidas incluídas na revisão ocorreu no terceiro trimestre.
- Febre foi o sintoma de apresentação mais comum, seguido por tosse, dispneia e alterações gastrointestinais. Pouco mais de 25% dos pacientes eram assintomáticos no momento do diagnóstico.
- Os achados laboratoriais mais comuns foram linfopenia e neutrofilia.
- Pneumonia foi um diagnóstico comum (relatado em cerca de 40% das pacientes), e uma pequena porcentagem (3,24%) necessitou de internação em unidade de terapia intensiva. O manejo dos pacientes variou de acordo com a instituição.
- A maioria foi tratada com medicamentos considerados relativamente seguros durante a gravidez: antibióticos (cefoperazona, sulbactam, ceftriaxona, cefazolina e azitromicina), terapia antiviral (lopinavir, ritonavir, oseltamivir e ganciclovir), e algumas foram tratadas com corticosteroides (dexametasona, metilprednisolona).
- De acordo com a análise, grávidas infectadas pelo vírus tiveram maior risco de complicações na gravidez, incluindo parto prematuro e pré-eclâmpsia, bem como taxas mais elevadas de parto cesáreo.
O que os resultados indicam
De acordo com os pesquisadores, embora ainda não exista um banco grande de estudos sobre o tema, os resultados apontam a necessidade de protocolos de tratamento específicos para grávidas infectadas pelo novo coronavírus.
“Os primeiros relatórios sugerem taxas mais altas de complicações relacionadas a infecção por Sars-CoV-2 durante a gravidez, adicionando urgência à busca de pesquisa sobre tratamentos e estratégias preventivas”, escreveram os autores.
“Durante a gravidez, o sistema imunológico da mulher deve se adaptar para dar suporte ao crescimento e desenvolvimento do seu bebê. Essa adaptação controla rigorosamente as respostas que poderiam machucar o bebê ao passo que também protege a mãe de vírus e bactérias”, diz Elizabeth Enninga, coautora do estudo e pesquisadora clínica no departamento de obstetrícia e ginecologia da Mayo Clinic.
Para as mulheres que estão grávidas e se sentem preocupadas sobre exposição ao vírus, Kavita Narang, também autora do estudo, recomenda consultar o obstetra para que possam trabalhar juntos para garantir o cuidado mais adequado.